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domingo, 08 novembro 2020 12:14

"São necessários mais estudos e dados epidemiológicos que avaliem a interação colesterol-cancro"

No grupo de sobreviventes de cancro, "dada a patologia de base, os fatores de risco cardiovascular são muitas vezes subestimados, apesar de a doença cardiovascular ser a principal causa de morte não tumoral nesta população". As palavras são da Dr.ª Patrícia Vasconcelos, do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, em entrevista ao My Cardiologia no decorrer do XXVIII Congresso Português de Aterosclerose. Leia a entrevista na íntegra.

My Cardiologia (MC) | Quais as principais mensagens da sessão?

Dr.ª Patrícia Vasconcelos (PV) | Os sobreviventes do cancro são um grupo em expansão. Neste grupo, dada a patologia de base, os fatores de risco cardiovascular são muitas vezes subestimados, apesar da doença cardiovascular ser a principal causa de morte não tumoral nesta população.

Em diferentes estudos, o papel do colesterol na incidência e agressividade do cancro apresenta resultados controversos. No entanto, a desregulação na homeostase da síntese de colesterol parece ser um importante fator no desenvolvimento tumoral. São necessários mais estudos e dados epidemiológicos que avaliem esta interação colesterol-cancro.

Estratégias terapêuticas destinadas a interferir no metabolismo do colesterol e sua combinação com terapêuticas anti neoplásicas podem ter efeitos sinergicos oferecendo eventualmente novas oportunidades terapêuticas.

MC | Qual a importância de discutir estes assuntos tendo em conta o atual panorama pandémico?

PV | Nesta fase pandémica, assistimos a atrasos no diagnóstico e tratamento do cancro. É preciso não descurar estas patologias! Por outro lado, o confinamento conduziu a uma maior percentagem de doentes com fatores de risco cardiovascular mal controlados, nos quais se incluiu a dislipidemia. E isto é uma preocupação!

MC | De que forma estes dados divulgados na sessão têm impacto na prática clínica?

PV | A classificação dos cancros de acordo com alterações genéticas no metabolismo do colesterol e estudos futuros podem vir a influenciar as opções terapêuticas, facilitando o desenvolvimento de uma Medicina de precisão para prevenir e tratar tipos específicos de cancro.

Estes dados servem também para alertar para outras patologias associadas ao cancro que podem afectar a sobrevida e a qualidade de vida destes doentes independentemente do seu prognóstico oncológico.