Da inércia e falta de adesão à ação: Curso Avançado de Lipidologia promove a visão holística e atuação precoce para "tornar a aterosclerose uma doença rara"

Da inércia e falta de adesão à ação: Curso Avançado de Lipidologia promove a visão holística e atuação precoce para “tornar a aterosclerose uma doença rara”


publicado em Notícias

18/11/2025


Patrícia Vasconcelos (internista na Unidade Local de Saúde Amadora/Sintra) e Patrícia Afonso-Mendes (internista na ULS de Coimbra), coordenadoras do Curso Avançado de Lipidologia, que se realizou no dia anterior ao arranque do XXXIII Congresso Português de Aterosclerose, alertam que as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de mortalidade em Portugal e que, apesar de colesterol LDL ser um dos principais fatores de risco modificáveis e de existirem terapêuticas eficazes, o controlo deste parâmetro “continua muito aquém daquilo que é desejável”. Assista às entrevistas.

Patrícia Vasconcelos partilha a sua análise sobre as razões pelas quais, apesar de existirem terapêuticas “muito eficazes, muito boas”, o controlo do colesterol LDL continua aquém do desejável. A especialista identifica dois desafios principais: a inércia médica e a falta de adesão do doente.

Segundo a coordenadora do Curso Avançado de Lipidologia 2025, a inércia médica é um desafio difícil de ultrapassar devido às orientações clínicas e guidelines que, por vezes, são confusas, levando os profissionais de saúde a ficarem “sem uma clareza do que se deve exatamente fazer”.

Quanto à adesão terapêutica, para Patrícia Vasconcelos, a dificuldade reside no facto de o colesterol ser uma doença que “não dói” e “não se vê”, o que, em conjunto com a baixa literacia, leva a que os doentes não percebam a importância deste fator de risco cardiovascular.

Questionada sobre a forma como o Curso Avançado de Lipidologia 2025 pode transformar a abordagem ao risco cardiovascular na prática clínica, sendo uma formação aprofundada em lípidos, a especialista lembra que existe um risco residual que está correlacionado com outros fatores, mesmo quando o colesterol LDL está controlado, tal como a presença de Lp(a). Assim, iniciativas destas permitem “compreender as bases, a fisiopatologia e a epidemiologia” e, consequentemente, “tratar melhor”, conhecendo as armas terapêuticas atualmente disponíveis para adaptar a cada risco individual.

Como mensagem final, Patrícia Vasconcelos gostaria que os participantes no Curso não se esquecessem que “quanto mais baixo, melhor. Quanto mais tempo, melhor”. E quanto mais precoce, melhor.

O papel da multidisciplinaridade e a barreira do custo

Patrícia Afonso-Mendes concorda que a inércia do médico e a falta de adesão são as duas principais barreiras no controlo do colesterol LDL.

“Temos doentes mal controlados, porque não os diagnosticamos cedo, não os estratificamos em condições e não iniciamos terapêutica”, afirma, referindo-se à inércia do médico.

Já sobre a adesão à terapêutica, a especialista correlaciona este aspeto com o custo dos fármacos antidislipidémicos, como as estatinas que, na sua perspetiva, “estão mal comparticipadas” e são caras para “uma população que neste momento já é considerada pobre”.

Para a internista, o Curso Avançado de Lipidologia 2025, que incluiu diversas especialidades médicas, é uma iniciativa crucial, cuja abrangência demonstra que é preciso ter uma visão holística, “não só do doente, mas também dos médicos que o tratam”.

Como mensagem final e à semelhança de Patrícia Vasconcelos, Patrícia Afonso-Mendes também quis reforçar a importância de uma atuação precoce e da persistência no tratamento: “Quanto mais cedo, melhor. Quanto mais tempo, melhor. Quanto mais baixo, melhor”. O objetivo é começar “desde cedo a ‘agredir’ o colesterol LDL” e a “tornar a aterosclerose uma doença rara”, mote da 33.ª edição do Congresso Português de Aterosclerose.