As doenças não tiram férias
publicado em Notícias
05/02/2025
As queixas de dor torácica acompanham a humanidade desde os seus primórdios. A dor torácica mais temida é, talvez, na forma de enfarte agudo do miocárdio, uma doença cardiovascular que afeta milhões de pessoas em todo mundo, sendo uma das principais causas de morbimortalidade também em Portugal. Caracterizada por dor torácica retrosternal, em aperto com irradiação para os membros superiores, esta dor torácica pode ser muitas vezes acompanhadas por náuseas, vómitos e pode significar risco de vida a quem dela sente. No entanto, apesar da sua prevalência, continua a representar sempre um desafio e, durante o período de férias não é exceção.
Muito se diz e, infelizmente já se sabe, mas a maioria insiste em não dar a devida atenção ao seu estado de saúde (ou de doença) durante o período de férias.
Um dos maiores obstáculos no diagnóstico correto do enfarte agudo do miocárdio é a natureza variável e subjetiva da dor torácica. Os sintomas podem diferir amplamente de uma pessoa para outra. Alguns doentes podem relatar uma sensação de “peso” torácico ou simplesmente falta de força, enquanto outros descrevem uma dor epigástrica (na região do estômago) ou sensação de enfartamento.
Além disso, a dor torácica de causa isquémica (dor presente no enfarte do miocárdio) pode ser confundida e atribuída a outras causas como problemas no pulmão, no esófago ou estômago sobretudo durante o período de férias em que estão presentes dias de mais calor, excessos alimentares e de consumo de bebidas alcoólicas.
A existência de exames laboratoriais e de imagem específicos auxiliam um diagnóstico preciso, mas uma descrição pormenorizada dos sintomas é o primeiro passo absolutamente fundamental para o sucesso de um diagnóstico correto, o qual nos orienta posteriormente para um tratamento célere e adequado que permite, dessa forma, aumentar a sobrevida e a qualidade das pessoas com esta patologia cardíaca.
A doença aterosclerótica coronária (doença das artérias do coração subjacente à maioria dos enfartes do miocárdio) é uma doença, na sua globalidade, prevenível. Dela dependem fatores passíveis de serem modificados pela adoção de um estilo de vida saudável e/ou pela adesão a terapêuticas farmacológicas específicas, são alguns exemplos a dislipidemia (colesterol elevado), o tabagismo, a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, a obesidade, o sedentarismo, entre outros.
Finalmente, é essencial sensibilizar todos para a importância destas doenças, é necessário maior investimento na literacia e na prevenção. Diagnosticar e tratar precocemente irá refletir-se em ganhos em anos de vida com qualidade. Em caso de suspeita de enfarte peça ajuda, ligue o 112, é desaconselhado recurso ao serviço de urgência por meios próprios.
Dr.ª Joana Rodrigues
Especialista em Cardiologista