Baixar o colesterol: quanto mais cedo melhor
publicado em Notícias
13/11/2024
A doença cardiovascular é a principal causa de mortalidade a nível mundial, sendo responsável por cerca de quatro milhões de óbitos em cada ano na Europa. O principal evento causador de morte cardiovascular é o enfarte do miocárdio, tendo na maioria dos casos por base a aterosclerose. Esta é uma doença que se inicia muito cedo, com a possibilidade de formação de placas nas artérias desde a infância, tal como acontece nos doentes com hipercolesterolemia familiar.
Há vários fatores de risco para o desenvolvimento de aterosclerose, como a hipertensão, a diabetes, o tabagismo ou a doença renal crónica, mas o principal fator que gera esta situação é o colesterol em circulação, em especial o C-LDL, e é certo que valores elevados de C-LDL têm um efeito cumulativo ao longo da vida, com maior probabilidade de formação de placas ateroscleróticas na parede arterial. Isto leva inexoravelmente a um maior risco de doença aterosclerótica e de eventos cardiovasculares como o enfarte do miocárdio, sabendo-se que esse risco resulta da combinação entre os valores plasmáticos de C-LDL e o número de anos de exposição a esse C-LDL. Vários estudos têm mostrado que o risco absoluto de eventos cardiovasculares é determinado pela exposição cumulativa ao C-LDL, a qual pode ser utilizada como alvo terapêutico para orientar o quanto cada pessoa tem de baixar o LDL para permanecer abaixo do limiar em que ocorrem os acontecimentos de doença cardiovascular.
Por haver esta evidência, temos cada vez mais motivos para tratar os valores elevados de colesterol de forma mais agressiva mais cedo na vida, e não esperar por idades mais avançadas, em regra depois dos 55 anos, que tem sido a prática habitual nas últimas décadas. Hoje em dia temos já disponíveis vários medicamentos com capacidade para fazer essa redução de forma eficaz e com bom perfil de segurança, sendo as estatinas os medicamentos de primeira linha, principalmente as mais potentes para baixar o C-LDL, as designadas estatinas de alta intensidade.
Esta ideia cada vez mais sólida foi confirmada recentemente na apresentação do “WHF Cholesterol Roadmap: Cholesterol Lowering Throughout the Life-course”, o qual indica que o C- LDL é o alvo da terapêutica para a redução de lípidos e enumera as estatinas de alta intensidade como medicamentos essenciais. O risco de doença cardiovascular pode ser reduzido através da diminuição dos níveis de C-LDL e uma redução modesta do C-LDL que começa cedo na vida confere um maior benefício do que uma redução maior, mas mais tardia. É também recomendada a combinação de estatinas como a atorvastatina e a rosuvastatina com a ezetimiba, de forma a que se consiga reduzir o C-LDL em ≥ 60 %.
Em suma, todos os doentes com níveis de C-LDL acima do recomendado devem iniciar terapêutica para a sua redução e atingimento de valores-alvo mais cedo do que tem sido hábito, de preferência logo a partir dos 40 anos de idade, garantindo assim uma proteção adicional contra a exposição cumulativa ao C-LDL.
Dr. João Porto
Especialista em Medicina Interna