Diabetes e necessidade do controlo global dos fatores de risco
publicado em Notícias
04/06/2025
Há muito que percebemos que a diabetes transcende a dimensão metabólica e a redução de HbA1c. O continuo cardio-reno-metabólico confere um enquadramento muito mais fidedigno da verdadeira dimensão da doença, no qual a doença cardiovascular continua a ser a principal causa de morbilidade e mortalidade nas pessoas que vivem com diabetes mellitus tipo 2 (DM2).
Estas novas exigências conceptuais culminaram no novo paradigma da abordagem estratégica da DM2, que implica cumprir dois grandes objetivos: Prevenir as complicações e otimizar a qualidade vida! Se tivermos em conta os números avassaladores desta pandemia, é fácil perceber que cumprindo estas duas premissas intervimos diretamente na modificação do curso natural da doença, com impacto na mudança de prognóstico.
Impõe-se uma abordagem absolutamente holística da pessoa com diabetes, integradora e complementar, em que o indivíduo está no centro de qualquer decisão. Não deve existir hierarquização de objetivos ou alvos terapêuticos, da mesma forma que não deve existir hierarquização terapêutica. Todos os quatro grandes componentes da abordagem da DM2 exigem igual foco e preocupação: Medicação para a gestão glicémica; Gestão do Peso, Gestão dos fatores de risco cardiovasculares (FRCV) e Proteção cardio-renal (com seleção de fármacos com benefícios comprovados na redução de MACE, hospitalização por insuficiência cardíaca e proteção renal) segundo as comorbilidades individualizadas da pessoa com diabetes. Num continuo de intervenção, em que a abordagem complementar de cada uma destas componentes se traduz em benefícios diretos e potencia os benefícios das outras componentes.
Desta forma, a Gestão dos FRCV é tão importante na abordagem da diabetes como o controlo glicémico. Nos últimos 10 anos, com a introdução de novos agentes farmacológicos como os iSGLT2 e os agomistas GLP1, múltiplas guidelines para redução do risco cardiovascular, foram emitidas por diferentes sociedades científicas das diferentes especialidades médicas, europeias e americanas. De uma forma geral as diretrizes estão alinhadas na recomendação de intervenções no estilo de vida, no controle agressivo da pressão arterial, c-LDL e glicemia, e proteção renal. As principais diferenças envolvem critérios de estratificação de risco, metas de tratamento para c-LDL e pressão arterial e indicações para adição de SGLT2i e GLP-1RA. No entanto, essas diferenças são mínimas, refletindo variações na interpretação das evidências e atualizações em rápido progresso na pesquisa clínica.
O que é indiscutível é que a abordagem agressiva dos FRCV, com targets muito bem definidos e individualizados segundo a estratificação de risco é parte integrante da abordagem da pessoa com DM, permitindo cumprir a premissa fundamental: mais anos de vida com mais qualidade de vida.
Drª. Joana Louro
Especialista em Medicina Interna