In Memoriam do Prof. Doutor Fernando de Pádua, por Dr. Francisco Araújo, presidente eleito da SPA, em nome da direção
publicado em Notícias
09/12/2022
“Meu querido, Professor Fernando de Pádua.
Talvez nunca lho tenha dito, mas mudou o curso da minha vida. Estava eu quarto ano da faculdade, cheio de insegurança e quase a desistir de um curso que não me preenchia e que teimava em concluir mais por vergonha que por brio. Esse era um ano decisivo, o início do contacto com a clínica e as coisas começavam a mudar com alguns pequenos sucessos. E aí surgiu o convite para trabalhar consigo e tudo mudou.
Percebi que se podiam seguir doentes durante décadas. E que as pessoas se confiavam a si, como se fosse um amigo, um sábio amigo. Essa empatia, criava laços fortes e duradouros. Aliava isso a uma linguagem simples, que todos entendiam, mas que lhes dava conhecimentos preciosos para ter saúde.
Os conselhos tinham a simplicidade que só os visionários conseguem. Como a ideia de que bastava o Titanic ter mudado a rota dois ou três graus, ainda longe do iceberg e teria evitado o acidente. Dizia isso aos jovens. Pequenas mudanças no estilo de vida podiam evitar complicações no futuro.
Tinha a humildade de reconhecer quando não sabia. Só os grandes fazem isso. Na frente do doente, o grande Professor retirava um tratado da estante e com o livro pousado nos joelhos, começava ali mesmo o estudo. Muitas vezes alheando-se, atrasando ainda mais as já atrasadas consultas. E os doentes não reclamavam. Sabiam que também eles seriam tratados como se houvesse todo o tempo do mundo.
Quantas vezes terminámos a consulta depois da uma da manhã. E sempre com o entusiasmo de quem gosta do que faz. Intervalado por vezes com uma espreitadela na novela das nove ou no futebol que passava na TV, enquanto saboreava a sua coca-cola de estimação e a sandes de pasta de amendoim, hábitos americanos que nunca perdeu.
Meia noite. Eu estourado. E o Prof., nos seus oitentas: – ainda aguentas ver mais um Araújo?
Consigo aprendi a importância da mensagem ser simples e da empatia com os doentes. De que nunca devemos perder a humildade. De que o estudo e o trabalho compensam. De que a prevenção é educação.
Foi um privilégio ter trabalhado consigo Mestre.”