O papel da “Dupla Inibição Trombótica do Doente Polivascular” discutido no XXVIII CPA
publicado em Notícias
08/11/2020
Convidada pelo My Cardiologia, a Dr.ª Sílvia Monteiro falou sobre a “Dupla Inibição Trombótica do Doente Polivascular/Double Thrombotic Inhinition in the Polivascular Patient”, tema da sessão da qual fez parte na qualidade de palestrante. Leia a entrevista completa.
My Cardiologia (MC) | Quais as principais mensagens da sessão?
Dr.ª Sílvia Monteiro (SM) | Esta terapêutica inovadora de dupla inibição antitrombótica com rivaroxabano 2.5 mg, 2id em associação à aspirina 100 mg permitiu uma redução notável de eventos cardiovasculares, em comparação com a aspirina 100 mg em monoterapia, numa população com doença arterial coronária (91%) ou doença arterial periférica (27%) com elevado risco cardiovascular (RCV), mas com evidência de um excelente controlo de fatores de RCV e otimização das terapêuticas cardiovasculares com impacto no prognóstico do doente.
Ao longo de um tempo de seguimento médio de 23 meses, verificou-se uma redução do risco relativo de 24% relativamente ao endpoint primário (EAM, AVC ou morte cardiovascular), 42% no AVC, 14% no EAM (sem atingir significado estatístico) e 22% na morte cardiovascular. No que diz respeito aos endpoints de segurança, houve um aumento significativo das hemorragias major, definidas de acordo com a classificação da ISTH modificada, sem se verificar um aumento significativo das hemorragias fatais ou potencialmente fatais. Importa sublinhar a redução significativa da mortalidade total (RRR 18%) e o net clinical benefit (EAM, AVC, morte cardiovascular, hemorragia fatal ou hemorragia não fatal em órgão crítico) significativo, com redução destes eventos na ordem dos 20%.
A análise das subpopulações incluídas no estudo Compass mostra que os doentes de maior RCV, particularmente aqueles que apresentam doença polivascular, insuficiência cardíaca, diabetes e doença renal crónica são os que mais beneficiam desta terapêutica de dupla inibição trombótica.
MC | Qual a importância de discutir estes assuntos tendo em conta o atual panorama pandémico?
SM | A doença cardiovascular (DCV) constitui a principal causa de morte em todo o mundo, é considerada uma patologia sistémica, muitas vezes polivascular, progressiva e dinâmica, que evolui com períodos de estabilidade clínica mais ou menos prolongados, por vezes intercalados com eventos cardiovasculares agudos. Nos últimos anos, temos evoluído muito no tratamento dos eventos cardiovasculares agudos, particularmente no caso de EAM e AVC, o que se traduziu numa melhoria muito significativa do prognóstico hospitalar destas patologias. Contudo, o risco de eventos cardiovasculares no contexto da DCV crónica mantém-se elevado e tem sido muitas vezes subvalorizado. Esta terapêutica abre claramente uma nova perspetiva de abordagem nesta população de doentes, com redução significativa da mortalidade total, dos eventos cardiovasculares e das amputações.
MC | De que forma estes dados divulgados na sessão têm impacto na prática clínica?
SM | O estudo Compass foi precocemente interrompido, tendo em conta a superioridade da terapêutica combinada (Rivaroxabano + Aspirina), com resultados muito impactantes nos principais endpoints considerados. Na prática clínica é fundamental avaliar, em cada consulta, o RCV e hemorrágico do doente com DCV crónica. Nos doentes que apresentam alto risco de eventos isquémicos associado a baixo risco hemorrágico deve ser considerada esta estratégia de terapêutica antitrombótica, que promove uma sinergia entre anticoagulação em baixa dose associada a antiagregação plaquetar, com um impacto muito relevante na melhoria do prognóstico e qualidade de vida dos doentes.